História de Mimoso

Protagonista da queda de roda gigante em Mimoso conta detalhes do ocorrido tempos atrás

Sexta-feira, 01 de Dezembro de 2023 às 19:07

Por Redação in Foco

amusement-park-1406534_960_720

Por: Renato Ribeiro dos Santos

Edição: Renato Pires Mofati

Imagem ilustrativa

Mimoso é uma fonte inesgotável de acontecimentos e fatos curiosos que mesmo ocorridos há 30, 50, 60 anos ainda nos surpreende atualmente. Prova disso foi o acidente ocorrido num parque de diversões que ocasionou a queda da roda gigante ferindo algumas pessoas.

O conteúdo deste texto ficou sob a responsabilidade de um dos principais protagonistas, além da presença de seu irmão. Pessoas estas desconhecidas atualmente por grande parte dos mimosenses, mas não de quem vivenciou com eles por aquele tempo em Mimoso. Estou me referindo aos irmãos Renato Ribeiro e Carlos Ribeiro dos Santos, que são filhos do casal Senhor Jacinto e Dona Dalva, irmãos do Lúcio Tadeu, Geísa e do Roberto (esse meu colega de infância). Toda a sua família viveu por muito tempo em Mimoso.

O texto em si ficou por conta do Renato que é Advogado e reside no extremo norte do Brasil em Macapá (AP) e com gentileza me enviou a narrativa deste fato ocorrido há 63 anos.

E foi assim que tudo aconteceu…

Mimoso do Sul, ES, 15 de novembro de 1959. Domingo à tarde.

Acidente com roda gigante. Vendaval.

Combinei com o meu irmão Carlos para irmos para o parque de diversões, então instalado aproximadamente um pouco antes da AABB, que não existia. O parque estava instalado logo após a passagem da linha férrea.

Fomos então para o parque e não avisamos a mamãe, dona Dalva. Para ela íamos ao cinema. Coisa de criança. Se falássemos que íamos para roda gigante, com certeza ela não deixaria.

Com o valor do ingresso da matinê, dava para ficar pelo menos uma hora ou mais na roda gigante. Foi o que fizemos.

Não me lembro exatamente o horário da tarde quando fomos para o parque. Compramos os ingressos e fomos nos divertir.

A Geisa, que estava vindo do campo do Independente, com o Lucio Tadeu, nosso irmão, ainda pequeno, passou pelo parque e começamos a gritar acenando para eles! Como já estava ventando muito, eles foram para casa e lá ela contou para a mamãe que estávamos no parque.

A tarde estava nublada, mas criança não observa isso. Creio que lá pelas 17 horas o céu estava mais escuro e começamos a ouvir um barulho muito grande vindo da direção da Rua da Serra. Então começou a ventar, a ventar, cada vez mais forte e faltou energia. Vimos que muitas pessoas estavam escalando a roda gigante para descê-la. Notamos também que o dono do parque (me lembro que ele não tinha um braço) tentava, sem sucesso, eis que muito pesada, mover a roda, algo assim.

Nesse momento começamos a nos desesperar, com vontade de descer. Mas tinha um detalhe: quando faltou energia, estávamos exatamente no ponto mais alto.

Então começou a ventar cada vez mais forte, com muito barulho e me segurei com força na barra de segurança da cadeira. Vi as barracas do parque serem levadas e lembro também de ver uma tampa de caixa d’água voando. O Carlos se agachou na cadeira e o vento o levou. Daí em diante não me lembro de mais nada.

Sei, por informação do Carlos e de outras pessoas, que o vento jogou o Carlos sobre o trilho ferroviário. Ele bateu com o peito com tanta força que quicou e bateu com a cabeça na chave dos trilhos. Quebrou uma costela e levou uma pancada muito forte na cabeça.

O fato que os cabos de aço que seguravam a estrutura se romperam e a roda desmoronou comigo, já desmaiado. Fiquei preso sob as ferragens por muitas horas, até chegar socorro.

Nesse meio tempo, chegou o senhor Chico Aurélio que tinha um caminhão e localizou o Carlos próximo da casa da dona Cecília Lima, que informou que eu estaria sob os escombros da roda. Depois levou uma bateria, ou várias baterias para iluminar a enfermaria do hospital, para onde fomos levados. Devemos isso a ele.

Levaram o Carlos, muito mal para o hospital. Depois que fui retirado dos escombros também fui para o hospital. Não me lembro de nada. Comecei a me lembrar de alguma coisa depois de uma semana. Aliás, nesse ínterim, um flash me vem à mente. No hospital, me lembro rapidamente de ver o Carlos numa maca. Ele estava pior do que eu. Como falei, a iluminação da enfermaria foi possível em razão de serviço voluntário prestado pelo Chico Aurélio.

O taxista Benedito Baco-baco levou a notícia para o papai e a mamãe, dizendo que a gente estava no hospital. Foi aquela correria, no escuro.

Não quebrei nenhum osso. Tive esmagamento da coxa direita e um hematoma grande no pescoço, sinal de um cabo de aço me prendendo. O Carlos, como relatei, ficou em pior situação na noite e no dia seguinte. Quase morreu. Mas teve a lembrança de, quando foi encontrado pelo Chico Aurélio, dizer que eu estava em pior situação, debaixo da roda gigante. Ele foi encontrado na calçada da casa da dona Cecília Lima.

Soube pela Geisa, que muitas crianças e jovens se machucaram quando pularam da roda, mas, como relatei, eu e o Carlos não conseguimos sair a tempo.

Soube depois que teria caído um raio próximo ao cinema, deixando tudo escuro.

Lembro-me:

– Saindo do hospital e indo para casa. Fiquei sem andar mais de um mês. Aos poucos fui me recuperando. Nesse ínterim, a mamãe me levou para tirar radiografia da coluna vertebral no Dr. Lincoln. A primeira chapa acusou lesão na coluna. Mamãe se desesperou e pediu nova radiografia. Esta segunda não acusou nada. Ainda bem.

Lembro-me ainda:

– De receber muitas visitas, inclusive do Dr. Cortes, que morava logo depois da estação da Leopoldina, às margens da ferrovia, em uma casa muito bonita, estilo anos 40.

 – Do Carlos indo ao consultório do Dr. José Arrabal Fernandes para fazer curativo na cabeça. Sofreu bastante.

– de ficar sentado em frente de casa enquanto me recuperava. Já tinha começado a andar novamente. Recebia muitas visitas para saber o que e como tinha acontecido.

Até hoje tenho uma cicatriz interna na coxa direita, mas que não me causou nenhum reflexo no modo de andar.

Fiquei muito tempo com trauma de trovoadas e ventos fortes. Voltei a subir em uma roda gigante no início da década de 80, aqui em Macapá, para acompanhar a minha filha Renata. Sem traumas.

É o que me lembro.

Macapá, 20 de janeiro de 2022.

56fe938b-a855-4230-8c5b-f645df3c93afNa foto, Renato Ribeiro dos Santos, protagonista deste terrível evento na roda gigante em Mimoso do Sul

Busca

anuncie

Anuncie no Mimoso in Foco

Clique aqui e saiba como anunciar
no maior portal de Mimoso do Sul

Mimoso in Foco 2023 - Todos os direitos reservados
J1 Studio