História de Mimoso
Sexta-feira, 08 de Dezembro de 2023 às 01:20
TEXTO: Renato Pires Mofati
FOTOS: Arquivo Pessoal (Renato)
Aproveitando o momento que antecede a próxima eleição, vamos juntos recordar alguns episódios da política de nosso Mimoso do Sul. As eleições para definições de Deputados, Senadores, Governadores e Presidente da República, não é nada comparada as encrencadas disputas municipais neste caso para o cargo de prefeito, que foram e ainda é uma verdadeira batalha campal.
E assim vamos recordar o que acontecia por aqui em algumas dessas famosas disputas para Prefeito Municipal e entre tapas e beijos se instalava o caos…
Há alguns anos nesta mesma época que antecedia as eleições, a coisa pegava fogo, correligionários partidários da antiga Arena, PDS, UDN, PTB e MDB faziam acontecer, desde as tradicionais bandeirinhas de pano que eram pregadas nos postes estes ainda de madeira, até a velha e conhecida distribuição de santinhos e imitações de cédulas eleitorais.
Meu Avô que foi vereador por duas vezes e prefeito de Mimoso me faz recordar o entra e sai de pessoas em sua casa… Eu não entendia direito que acontecia, em momentos grande falatório, parecia uma briga prá valer, em outros sorrisos e abraços… Mas o meu lugar preferido era ficar encima de uma cadeira brincando com todos aqueles montinhos de papeis em cima de uma velha estante.
E ali eu juntava, amontoava, separava, mas de repente uma voz serena, porém grave pertinho do meu ouvido dizia: “Não pode misturar! Só pode mexer num montinho de cada vez!” E voltava para aquelas infinitas conversas. Recordo-me bem de um homem que sempre aparecia por ali, até conhecia o barulho daquele Jeep e do jeito dele! Camisa de manga comprida dobrada, das suas mãos grosas e fortes, do cabelo penteado, do bigode, olhos apertados e lábios finos, calmo em suas palavras assim com seus gestos, me parecia ser um bom Homem e de fato era. Chamava-se João Guarçoni, e citar a política antiga e não falar de seu João é ignorar a própria ocasião.
A política em Mimoso do Sul vem ao longo dos tempos trazendo momentos de alegria com as vitórias de uns e tristeza com derrotas de outros… Foi assim com Pedro José Vieira, Luiz de Freitas, Joaquim Paiva Gonçalves, Dr. Jasson Martins, Dr. Cortes, Morgado Gamboa. Se um perde, outro ganha e a disputa desse ser encarada como um jogo, um campeonato pois não existe vitorioso sem o adversário ou perdedor! Faz parte de todo o conteúdo da política. A disputa para se chegar a vitoria deixavam principalmente os políticos com os nervos à flor da pele e a coisa sempre foi palmo a palmo, voto a voto!
Homens sérios empenhavam suas palavras e seu nome em prol de todo o povo Mimosense. Com o passar do tempo novos nomes na política iam surgindo, assim como novos cabos eleitorais. Alguns mais tranquilos, outros mais exaltados e a situação até certo ponto ficava preocupante e valia tudo para impedir o desempenho de algum candidato adversário.
Houve um caso que para impedir as tradicionais andanças de carro para pegar o eleitor no dia da votação, todos os pneus dos veículos de campanha daquele candidato foram furados propositalmente impedindo assim a sua circulação, além é claro dos inesquecíveis tapas na cara, soco, agarra daqui e dali e bate boca em praça pública, eram coisas rotineiras!
Já o serviço sonoro de carro de som, começou a ser utilizado por volta de 1969 e as músicas faziam bastante sucesso, claro sem os recursos atuais; e muitos ainda recordam da música de um antigo candidato: “O povo quer… O povo vota, para Vereador em Fernando Mota… Você sabe o número do moço? Sabe! Então repete… Fernando Mota é nosso candidato: 2287! 2287!”.
Havia também aqueles mais ousados que criavam sua logomarca partidária como o capetinha pegando fogo todo vermelho do MDB (Manda Brasa) ideia do Amaro Wigand, João Osório e o tal João Bastos, que era bom de votos mas não conseguia se eleger, coisas da política! Mas um nome forte na história política de Mimoso do Sul foi Carlos Alberto Cunha, um campeão de votos, um autêntico PMDB que era o terror de seus adversários e sempre inovava na política como aquele imenso balão a gás que ficou durante sua campanha preso por cordas atrás do Bar Nabé, muitos ainda se lembram do seu lendário número: 1215.
Nesta época apimentada de nossa política aconteciam as famosas apostas que eram feitas em vários locais: Bar Guarany, dentro de agencias Bancarias, no jardim da praça, nas estradas, em propriedades… E muitas vezes eram casados os cheques e até mesmo dinheiro vivo, que era confiado a uma pessoas de muita responsabilidade, e o comentário rolava solto por toda a cidade, a começar pela quantidade apostada… Sempre maior do que a realidade!
Outro episódio marcante ocorrido há muito tempo foi numa dura disputa entre os arque inimigos na época: Fernando Resende e Pedro Costa. Faltando apenas 03 dias para o dia da eleição o assunto na cidade era que o destemido Pedro Costa ia vencer as eleições com larga vantagem! Mesmo enfrentando um peso pesado de muita astúcia como o Fernandão, e a briga entre a inteligência do Caburé contra a astucia águia colocava ainda mais lenha na fogueira! E naquela noite de sexta-feira os dois candidatos faziam seus últimos comícios com palanques armados em plena cidade, Pedro Costa ficou na praça central e Fernando montou seu palanque na praça da Igreja Matriz, e o público bem divido em ambos locais. Na praça o Caburé Pedro Costa mandando ver ao microfone com figuras de peso em cima do palanque: José Carlos da Fonseca, Elcio Álvares, Teodorico Ferraço, Carlito Vivas, Carlito Martins, Zé Pedro, Nilo Guedes e todos os seus fortes correligionários! E o oba, oba da turma do vamos ver… Já ganhou!!! Do outro lado da cidade uma legião de fanáticos e apaixonados pelo Fernando Resende aguardava com ansiedade a chegada de seu candidato maior! Que ate certa altura do campeonato não tinha dado as caras!
De repente surge um comentário de que o Fernando havia sofrido um atentado a balas! E o murmúrio toma conta não só daquela enorme multidão, como de toda a cidade! Com grande atraso para o início do comício do popular Baião (Apelido do Fernando), encosta por de trás do palanque um Chevrolet Opala e escoltado por seus leões de chácara surge à figura do Fernandão meio que amparado por amigos, meio cabisbaixo e enxugando os olhos com um lenço pega o microfone do alto de sua enorme experiência diz: “Meus irmãos, meu povo Mimosense… Desculpe o atraso! Mas é por milagre que eu estou aqui e agora, pois ao vir da Fazenda Santa Helena para Mimoso, fui cercado por um carro e por homens encapuzados e fizeram vários disparos de arma de fogo contra mim! Foi muita sorte eu não ter morrido!” Aquele momento foi de um silêncio total! As pessoas presentes no comício ficaram aterrorizadas e apreensivas diante da declaração feita pelo Fernando… E ele ainda disse: “Se vocês quiserem ver o que aconteceu comigo, podem vir aqui atrás deste palanque para verem com seus próprios olhos como o carro ficou todo crivado de tiros!” Bem com este acontecimento a notícia se espalhou feito rastilho de pólvora!
Grande parte das pessoas que estavam no comício do Pedro Costa vieram até o palanque do Fernando para verem o que realmente tinha ocorrido! O trajeto da rua da prefeitura e ponte das mangueiras parecia um formigueiro humano e o famoso vai e vêm atingiu limites consideráveis! Bem, passado aquela noite, houve muita conversa, falatório, e disse me disse em nossa cidade, e esse episódio até hoje deixam muitas perguntas sem respostas! Após a votação daquela conturbada eleição, a apuração começa a acontecer … Uma junta era formada e indicada pela Justiça Eleitoral para assim abrir cada cédula, analisar e contar os votos de cada candidato, e isso levava dias, e o povo reunido ali no jardim embaixo da nossa majestosa árvore, gritava, vaiava… Conforme os resultados que eram divulgados pelo serviço de alto-falante do Fórum, e aquele fanático eleitor que via o seu candidato perdendo ia saindo “de fininho” para não mais voltar.
O resultado de cada seção eleitoral era fixado na própria parede do Fórum e se transformava em uma verdadeira loucura, papel e caneta na mão fazendo a soma total do resultado divulgado, e com o resultado total apurado, o candidato eleito e seus correligionários partiam para a felicidade geral, lotando bares, ruas jardins, enfim… Toda praça da cidade! Nesta eleição ao qual fiz a narrativa do suposto atentado ocorrido ao candidato Fernando Resende, ele saiu vitorioso com uma pequena vantagem de apenas 78 votos! Nem é preciso dizer o falatório que isso ocasionou!
Mimoso do Sul, sempre teve o momento eleitoral com grandes disputas, hoje grande parte dos políticos estão desacreditados e quase ridicularizados perante a opinião pública. Evidentemente que existem exceções… Mas os políticos “TODOS” que um dia passaram por nossa Prefeitura, de alguma forma contribuíram para o bem estar de nosso Município… Obrigado a cada um de vocês!