No Túnel do Tempo: Um passeio em Mimoso tempos atrás

Segunda-feira, 03 de outubro de 2016, às 18h40.
unnamed (2)

Por Renato Pires Mofati

 

Que tal sairmos juntos por aí dando uma volta pelas ruas de nossa cidade?

Mas não em Mimoso do presente e sim do passado! Das lembranças que estão guardadas na nossa mente e no coração… Das pessoas, dos comércios, numa mistura de tudo um pouco do meu tempo e de outros tempos também… Vamos lá!

Iniciamos o passeio na Rua da Serra, dando um Bom dia ao Seu Antonio Vivas e Dona Ana em frente a fábrica de móveis São Jorge, dali mesmo avistamos o Sadi atendendo todo aquele povo da bela Aurora e Abril. Seguindo adiante o Sr. Felipe Macarrão (esse apelido tem história!) expondo seu pães em sua padaria, mas um cheiro diferente delicioso toma conta do ar… Não dos pães daquela padaria, mas o cheiro de cajuzinho e bolos que vinham lá da casa da Dona Brigida… Nossa! Os aniversários daquela época eram servidos por ela que confeccionava os bolos com aquele glacê firme de açúcar, as inigualáveis maçãnzinhas cristalizadas, o olho de sogra, o charutinho com o nome do aniversariante escrito, que saudade!

Logo a seguir ficava o armazém do seu Euclides Melo que conversava com o seu irmão João Bolinha, bem pertinho mas do outro lado da rua o Seu Chaquib do tradicional Armazém Violeta despacha os fregueses… É só lembrar daquele lugar que o cheiro da tradicional venda de tempos atrás nos faz recordar o velho balcão de madeira, fumos em rolos, latas de biscoitos, enlatados e muitas peças de bacalhau do porto salgado. Seu Chaquib era um dos mais conhecidos moradores de Mimoso tamanho a popularidade e qualidade de seu comércio.

Realmente a Rua da Serra tinha muita coisa boa e o comércio era muito forte… Outra padaria logo a seguir mostrava em sua vitrine a famosa rosca baroa que de tão grande cabia no braço. Seguindo rua afora, ouço um falatório, parecia briga! Mas era um alvoroço de amigos dentro do açougue do Seu Ary, discutindo futebol, pois ali entrou um Ypiranguista chamado Manoel Barreto Ramos num verdadeiro campo minado, a rua da Serra em peso era Independente, ai já viu!!!! Bem em frente o antigo mercadão da Rua da Serra marcava presença… E que presença! Suas dimensões eram extravagantes e ficava no centro das atenções de várias ruas e passagem de pessoas, Seu Joaquim Braga por muito tempo se responsabilizou por seu funcionamento, e vendia desde hortaliças, carnes de porco, bovina, aves vivas, abatidas, peixes, cereais e muitos outros itens era o ponto de parada de muitos amigos em cada manhã!

Lá vamos nós… Resolvemos dar uma parada no comércio do Nicolau Nassur que parecia perdido no meio daquela miscelânea toda que só ele entendia… E se você procurasse prego ele tinha, alfinete de frauda tinha, anzol tinha, formicida de tatu tinha muito, tecidos desde lona a carne seca e chita, até os inigualáveis chapéus Ramezoni,  dizem que certa vez foi pegar uma panela de ferro no alto de uma prateleira veio junto uma Jararaca dorminhoca de tão antiga no local estava cinza! Ai sair dali ele nos ofertou algumas mangas daquelas redondinhas chamada calotinha… Nicolau era uma pessoas especial, e gente da melhor qualidade. Nos despedimos e seguimos em frente por aquela mesma calçada e ao atravessar a rua quase chegando na ponte, o Sr. Manoel Cacheiro vêm em disparada pela rua da banqueta com cara de poucos amigos e passou velozmente montado numa bicicleta Phillips passou pela ponte e seguiu em direção a linha do trem… Acho que a tal discussão entre torcedores lá atrás no açougue do seu Ary foi feia mesmo! Depois da ponte ficava a pensão Henrique, o Bar Vitória e o movimento do Sinucão e avistamos a estação de trens, mas tomamos a direção da calçada onde havia sombra e passamos em frente a farmácia do Seu Cristovão e o Manoel com a injeção na mão preparava uma daquelas para perfurar a pele daquele garotinho que antes de qualquer coisa já estava sem voz de tanto gritar! Coitado, eu que o diga!

Que passeio bacana! Sem pressa e olhando os detalhes de como as coisas eram diferente! Ali na barbearia do Anivaldo Torres o agente da estação Sr. Duarte bem de frente a porta conversa com alguém e o velho cego Sr. Antonio Augusto sentado no banco da barbearia escutando o assunto e também prestando atenção no chiado da vassoura do Sr. Arribe (Capixaba) sempre fiel a seu comércio (homem bom tá ali)… De repente nos deparamos novamente com aquele Homem meio carrancudo de boné de pano e olhos azuis, estamos falando do Seu Manoel Cacheiro que havia passado lá atrás com a bicicleta, mas agora ele tava mais tranquilo e vendendo para o seu Ismael Curti um fogão a gás, seu Manoel era assim mesmo cara de poucos amigos mas uma pessoa com um coração grandioso, além de culto e veloz no raciocínio principalmente na contabilidade geral de sua firma que era toda realizada por ele próprio e dispensava máquina de somar.

Dali passamos em frente ao grande armazém de café do Sr. De Biasi Martins. Como era mês de Julho havia sombra por toda a rua da Estação e uma sensação de frio saía de dentro daquelas enormes portas e seus salões abarrotados de sacos de café… O cheiro era pura nostalgia! A Rua da Estação se chama Saudade… E a saudade mesmo veio a seguir quando passei de frente a Sapataria e Selaria Darcy que pertencia ao meu Avô Darcy Francisco Pires, e lá como mostruário se destacavam bolas de futebol, arreios para animais, botas de couro e vários pares de sapatos dentro os quais o mais moderno Luiz XV, parei e fiquei observando um cavalete na calçada e sobre ele uma imponente sela toda trabalhada cheia de recortes e com muitas fivelas prateadas que cuidadosamente era colocada pelo Sr. Benedito Seleiro que trabalhava junto de meu Avô que naquele momento não estava! Bem pertinho praticamente ao lado ficava a relojoaria do Seu Enes Cheibub que estava compenetrado com uma lente fixada em seu olho observando um relógio…

Parei por um instante e fiquei a observar o morro que mais tarde teria a denominação de Morro do Cristo, naquela época era bem diferente devido a uma grande mata que praticamente recobria toda sua parte alta, havia apenas algumas casas na parte de baixo e um extenso mangueiral pertencente ao pomar da Amelinha leite escondia o que existia mais abaixo… Ali no atual lugar onde existe o Grupo Pedro José Vieira e AABB, havia apenas uma enorme caixa d’água suspensa por uma torre com aproximadamente 10 metros de altura, ela era da companhia Leopoldina e servia para abastecer os trens de passageiros e cargas.

Chegamos ao Hotel Mimoso, não para ser hospedagem naquele final de manhã, mas para observar a sua imponência, a antiga escadaria, a cozinha e o tradicional cheiro de bife acebolado feito por Dona Odete… Afinal estava na hora de servir os hóspedes e Seu Jamilú e Dona Rosa se encarregavam para que tudo saísse da melhor forma possível…

Então nossa atenção se volta para a correria de uma criançada saindo em disparada de dentro da relojoaria do Amim Yagezy, imagine aquele cidadão trabalhando e uma criançada perturbando… Amim nunca teve papas na língua e distribuía seu extenso vocabulário cheio de xingamentos, a correria era certa! Naquela relojoaria havia um enorme relógio de quase 02 metros de altura num esquife de vidro e aquele pendulo enorme balançando despertava a curiosidade de todos e esse tradicional representante da colônia Sírio-libanesa de Mimoso, quando incomodado, era assim mesmo, explosivo, nervoso e com cara de poucos amigos… Mas era tudo da boca para fora e logo voltava a ser o velho e bondoso Amim de sempre! O seu vizinho era o Kaliu Kafuri da Casa Zaira, atual casa Kafuri outro representante da Colonia Sírio-libanesa, aliás, aquela rua tinha a denominação de “Rua dos Achas” e sua conhecida nacionalidade, tamanha presença destes Patrícios por ali…

Seguindo, vemos o Sr. Dimas com o palito entre os lábios cortando a mironga (Pudim de pão) no velho tabuleiro, bem ao lado havia um bar de um Senhor que era Turco e falava meio enrolado, e não tinha muita paciência com a gente, e olha que gastávamos bastante por ali, pois tinha sorvete quente com aquele anelzinho de brinde, colchão mole que na verdade era um sanduíche formado por dois biscoitos maisena com Maria mole no meio, detalhe: Os biscoitos estavam sempre murchos… Ainda tinha o tradicional suspiro nas cores rosa, branco, azul e amarelo, tinha que gastar, porque ficar parado ali dentro sem fazer nada, era correria na certa! Coladinho no Bar dos Turcos ficava a residência do Sr. Saliba Acha, que passava praticamente todo o dia sentado em sua cadeira de balanço naquela linda varanda, acho que ele adorava olhar o movimento da rua lá de cima! Junto a ela era o consultório dentário do Seu Joca, e contornando a calçada ficamos observando um macaco dentro de uma grande gaiola e filho do proprietário da casa Simão brincando com ele, era o Simãozinho filho do proprietário Sr. Simão Itala.

A seguir ficava a foto Brasília do Seu Reno Cysne e resolvemos olhar alguns retratos que estavam em exposição numa grande vitrine, eram fotos de carnaval, de repente começamos a ouvir um pequeno e marcado barulho: Tic, tac… Tic, tac… Eram as máquinas de datilografia da Escola Pratt da Dona Leonor Mariano, e quantos de nós passamos por ali! E é impossível esquecer: “a s d f g h j k l ç”… Espaço! E era assim que praticávamos na velha máquina Royal, Remington ou Olivet, tempo bom!

Vizinho à escola de datilografia ficava o Posto telefônico da Dona Zulmira que sempre estava por ali sentada em uma cadeira e na frente dela um grande painel… O trabalho feito por Dona Zulmira era importante e de muita responsabilidade, não era fácil conseguir uma ligação telefônica naquele tempo, por vezes pedíamos a ligação de manhã e só era atendido à tarde! Então Dona Zulmira mandava um mensageiro a galope (Sempre tinha um garoto por ali) até a casa da pessoa que pediu a ligação para atender finalmente a tão esperada chamada… No posto havia duas cabines separadas e que eram fechadas por uma portinhola flexível de duas bandas que deslizavam sobre trilhos para se fecharem completamente e ali podia conversar particular ao telefone, Dona Zulmira tinha duas funcionárias muito educadas que eram treinadas a executar suas tarefas, era um charme quando a gente as via com aquele fone sobre a cabeça e fazendo aquelas manobras colocando os cabos e plugs naqueles orifícios adaptados no grande painel… A população de Mimoso do Sul deve muito ao trabalho realizado por Dona Zulmira no antigo Posto Telefônico, que foi um marco em nossa cidade! Sua casa ficava ao lado e tinha uma grande horta que era cuidada pelo seu esposo Sr. Antonio Velasques proprietário do Bar Santa Terezinha. Um pouquinho acima ali mesmo na Rua Siqueira Campos, Dona Dalva Ribeiro tinha um confecção e algumas funcionarias trabalhavam com ela e o movimento ali era sempre grande.

Do outro lado da rua existia a agência do IBGE e o João Luiz Guimarães era o chefe do setor e tinha outros funcionários, este ponto ficava anexo do lado esquerdo do prédio do Clube dos Operários e do outro lado era a morada de um Norte Americano chamado John Willians, não me perguntem o que aquele americano estava fazendo ali, só sei que era na época da Guerra do Vietnã! Em frente ficava o consultório do recém-chegado em Mimoso Dr. Mac Arthur Ferraz Scalvo que por ali passou com seu tradicional jaleco branco!

Seguindo nosso passeio, logo a frente ficava a antiga rinha de galos e sentado num enorme banco de madeira do outro lado da rua estava o seu Antoninho Paiva batendo um papo com o seu Xará Antonio Guarçoni, uma bacia cheia de laranjas e cascas enroladas no chão completava o visual! Paramos um pouquinho na venda do Seu Chiquinho Pureza logo a seguir… Era uma enorme barraca de madeira e tinha como destaque o nome: “Barraca Santa Cruz” e ali vendia doce de leite, cocada, banana, ovos, legumes e algumas miudezas… Seu Chiquinha era um bom Homem, educado e sua casa ficava ao lado e seus filhos sempre estavam por ali junto ao lindo cachorro da raça Collie que se chamava Japir!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *